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Roberto Acioli de Oliveira

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10 de dez. de 2009

Estética da Destruição




O maior
princípio
de beleza
é a saúde”

Adolf Hitler






Arquitetura da Destruição
(1992) (1), documentário de Peter Cohen, mostra a articulação entre o ideal estético nazista e a perseguição aos judeus. Vejamos alguns elementos desse ideal estético. A tomada do poder por Hitler incluía uma ampla “limpeza estética” das impurezas que supostamente degeneravam o espírito ariano. A meta do Nacional Socialismo era a verdadeira Pureza. Afirmavam conhecer a origem de uma grande ameaça a essa pureza que, quando erradicada, permitiria o surgimento de uma nova Alemanha.

Na música, Richard Wagner era o ídolo de Hitler, que admirava o que considerava a melhor mistura de um artista criativo e um político em um só homem. Hitler absorveu as propostas de Wagner: anti-semitismo, culto ao legado nórdico e o mito do sangue puro, arte para uma nova civilização. Um artista-príncipe nascido do povo, unindo a vida e a arte, anunciando o Estado Novo. Em certo momento, Hitler teria dito que aquele que não compreender Richard Wagner não compreenderá o Nazismo.

A escultura gozou de popularidade na lógica da estética de Hitler, pois era pública, ao contrário da pintura. O gigantismo era um elemento básico nas esculturas encomendadas pelo Partido Nazista – o que fazia delas habitantes do espaço público. Deveriam ser vistas mesmo à distância. Ninguém estaria com seus olhos longe de uma, assim que se levanta a cabeça. Ainda assim, a escultura deveria se adequar à arquitetura. Ela deveria ser pensada em função dos prédios e estádios que iria decorar. Gigantismo também em relação aos encontros da massa do povo. Nos comícios, as massas que ocupariam esses grandes espaços arquitetônicos, eram de grande importância para os nazistas – elas encarnavam o mito do Corpo do Povo alemão. A massa vista como um corpo e seu sistema circulatório, deveria buscar uma pureza racial. Pode-se dizer que Hitler foi um grande coreógrafo das massas. Ele deu forma ao nazismo, criando os uniformes, as bandeiras e os estandartes. A tristemente famosa insígnia do Partido Nazista foi criada em 1923. (imagem acima, cena de Olímpia, filme dirigido por Leni Riefenstahl, registra as olimpíadas de 1936 em Berlim, sob os olhos atentos de Hitler. A cena, muito difundida, do atleta negro norte-americano Jesse Owens vencendo os alemães é enganadora, já que nos Estados Unidos o racismo era praticamente institucionalizado)


A arte tinha grande importância dentro do ideal nazista de pureza. A degeneração cultural era considerada uma ameaça. Identificavam um “bolchevismo cultural” que estaria sendo engendrado pelos judeus. Para os nazistas, a vanguarda artística era evidência de depravação cultural e intelectual. A oposição em relação a todas as manifestações da arte moderna era considerada uma “necessidade higiênica” desse Corpo do Povo. Em 1928, fundada a primeira organização cultural nazista, tendo o comandante da SS Heindrich Himmler como um de seus patronos, é deixada sob o comando de Rosemberg. Inicialmente a Sociedade Nacional Socialista da Cultura Alemã muda seu nome para Defesa da Cultura Alemã. (imagem acima, escultura de Arno Brecker)

O Partido defenderia o Corpo do Povo, afastando de seus olhos os artistas modernos cujas obras mostrariam sinais de doença mental. A partir de 1931, o professor Paul Schultze-Naumburg faz comparações entre obras de arte moderna e fotos de pessoas com problemas físicos e mentais. A idéia era ligar degeneração com perversão artística, uma vez que em sua opinião somente se poderia encontrar os modelos dessa arte nos manicômios - nos quais, completa o professor, “se reúne a degeneração de nossa espécie”. Para Schultze-Naumburg, arte é espelho de saúde mental. Como Hitler, o professor via saúde apenas nas obras da Antiguidade greco-romana e no Renascimento. O embelezamento do mundo é um dos princípios do nazismo. Segundo a ideologia nazista, a miscigenação degenerou a beleza original do mundo; por isso a defesa de uma volta aos antigos ideais. (imagem abaixo, à direita, cena de O Triunfo da Vontade, 1935, também dirigido por Leni Riefenstahl)

O médico torna-se
um elo importante entr
e saúde e beleza - um perito em estética. Não porque agora todo mundo vai fazer plástica, mas porque vai purificar a raça: é a idéia dos assassinatos
em massa


Nenhuma outra profissão
tinha tantos membros do Partido
-
com 45% dos médicos alemães
em seus quadros



Nas palavras de Cohen: “O assassinato em massa foi a conseqüência final da ambição de Hitler em criar o novo homem. A maquiagem do culto nazista à beleza encontrou seu caminho na câmara de gás. A matança era uma missão biológica, um tributo sagrado ao sangue puro. As fábricas da morte faziam saneamento antropológico. Eram o instrumento de embelezamento”.

Notas

1. No Brasil, foi distribuído em vídeo por Cult Filmes, 1992. Em dvd por Versátil Home Vídeo, 2006.

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