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Roberto Acioli de Oliveira

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1 de abr. de 2010

Yasujiro Ozu e o Conflito de Gerações







Dizer  como  os  outros
devem  viver suas vidas
é  bem   mais   fácil   do
que resolver  a  própria




 

A Família é Uma Terapia 

O ponto de partida é um casamento e o embarque do casal no trem. Um casal feliz e aprovado (pelos pais dela). Dentre os convidados, um pai e sua filha. Ela vai deixar Tóquio para se casar contra a vontade dele. A hipótese de que ele não assistirá o casamento dela desespera a mãe. No final, acaba comparecendo, mas nós não veremos nem o casamento nem o banquete. Trata-se de uma comédia sobre uma família em que pais são ultrapassados por sua filha (1). Enquanto o pai se limitava a dar conselhos para melhorar a vida dos outros, tudo ia bem. Porém, tudo muda quando os problemas surgem na relação com sua filha.

Filha Pensa que Não é Igual a Sua Mãe 




Se conselho fosse
bom
ninguém dava, vendia







Em Flor do Equinócio (Higanbana, 1958), Ozu expõe o conflito de gerações no Japão. Embora tenha admitido que neste filme tivesse tido mais simpatia pela geração mais velha, o cineasta não deixou de mostrar o choque entre as idéias dos mais jovens em relação ao casamento e o amor. “Neste filme, explicou Ozu, o que me interessa são pais que se opõem às idéias totalmente novas de suas filhas”. As filhas são modernas na aparência, mas tradicionais na essência, enquanto o pai é incapaz de aplicar em si mesmo os bons conselhos que dava aos outros. (as três imagens do artigo são de Flor do Equinócio)

“Ele criou a filha carinhosamente e se preocupa com seu casamento. Mas a filha ficou noiva sem consultá-lo. Ele compreende que o noivo é um bom rapaz, mas, como foi deixado de lado, sente-se sempre desarmado e ferido. Ao mesmo tempo, não pode se opor completamente ao casamento. Essa tensão confusa do pai é o meu tema. Em geral, a mãe sorri e faz das tripas coração, enfim, é mais fácil para ela adaptar-se a qualquer situação” (2)

O Encanto da Repetição 




Ozu
o homem
que se copiava







Embora os sentimentos confusos de um pai a filha em idade de casar não resuma a tese de Shiguéhiko Hasumi sobre as características da fase final de Ozu, não deixa de ser um de seus temas principais (3). Mais especificamente, nos treze anos que vão de Pai e Filha (Banshun, 1949) a A Rotina Tem Seu Encanto (Sanma no Aji, 1962), Ozu descreve a psicologia dos pais e mães que envelhecem e casam filhos e filhas. Dessa forma, filmes como Dias de Outono (Akibiyouri, 1960) são refilmagens de Pai e Filha, com a diferença de que no primeiro caso acompanhamos o dilema entre uma viúva e de sua filha, enquanto no segundo trata-se de pai e filha.

Pai e Filha, por sua vez, é uma variante de Era Uma Vez Um Pai (Chichi ariki, 1942). A diferença é que este último fora filmado durante a guerra e o segundo já no pós-guerra, incorporando uma série de questões ligadas ao declínio ou problematização dos laços familiares. Em Também Fomos Felizes (Bakushû, 1951), Viagem a Tóquio (conhecido também como Era Uma Vez em Tóquio e Contos de Tóquio, Tokio Monogatari, 1953) e Fim de Verão (Kohayagawa-ke no aki, 1961) são histórias de três gerações de famílias, incluído avós e netos. Aqui também, o casamento da filha constitui um tema que é manifesto em um filme, enquanto é virtual noutro. Enfim, conclui Hasumi, Flor do Equinócio aparece como uma síntese de todos eles.

Notas:

1. HASUMI, Shiguéhiko. Yasujirô Ozu. Paris: Éditions de l'Étoile/Cahiers du Cinéma, 1998. P. 89.
2. Comentário de Ozu em 1958, para IiDA, Shinbi; IWASAKI, Akira. Entrevista com Yasujiro Ozu In PARENTE, André; NAGIB, Lúcia (orgs). Ozu. O Extraordinário Cineasta do Cotidiano. São Paulo: Marco Zero, 1990. P.158. O grifo é meu n. a.
3. HASUMI, Shiguéhiko. Op. Cit., pp. 88-9 e 91-2. 


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